*Ricardo Barbosa de
Sousa
Para manter o foco
numa espiritualidade cristã e bíblica, é preciso reconhecer a centralidade da
cruz. A cruz de Cristo foi única no sentido de que representou uma escolha, um
caminho que Jesus decidiu trilhar: o caminho da obediência ao Pai. A
espiritualidade cristã requer obediência. Sabemos que no tempo de Jesus
existiram muitas outras cruzes e muitos que foram crucificados nelas; alguns
culpados, outros martirizados. No entanto, nenhuma delas pode ser comparada com
a cruz de nosso Senhor em virtude daquilo que ela representou.
Podemos considerar
que a cruz de Cristo começa a ser carregada no episódio da tentação. Ali, o
diabo propõe um caminho para Jesus ser o Messias. Um caminho que representou
uma forma tentadora de ser o Messias. Transformar pedras em pães, saltar do
alto do templo e ser amparado por anjos, e receber a autoridade política e financeira
sobre os reinos e as nações. Se Jesus aceitasse a oferta do diabo, rapidamente
teria uma multidão de admiradores, de gente faminta encontrando pão nas ruas e
estradas, encantada com seu poder sobre os anjos e os seres celestiais e com
seu governo mundial estabelecendo as novas regras políticas e econômicas. Seria
o caminho mais rápido para implantar seu reino entre os homens.
Porém, o caminho de
Deus não era este. O reino que ele oferece precisa nascer primeiro dentro de
cada um. As mudanças não acontecem de cima para baixo nem de fora para dentro.
É um reino que vem como uma pequena semente e leva tempo para crescer. Não é
imposto, é aceito. Não se estabelece pela força do poder, mas pelo coração e
mente transformados. O rei deste reino não permanece assentado no seu trono,
mas desce e se torna um servo.
A cruz de Jesus não
significou apenas o sofrimento final do seu ministério público. Ela representou
uma escolha que o acompanhou por toda a sua vida e que culminou em seu
sofrimento e morte. Quando Jesus nos chama para segui-lo, ele afirma que, se
não tomarmos nossa cruz, não será possível ser seu discípulo. A razão para isto
é clara. Se o caminho dele é o caminho do servo obediente, o nosso não pode ser
diferente. Por isto, precisamos tomar nossa cruz, e ela deve representar também
nossa escolha, que é a mesma que ele fez -- uma escolha pela renúncia e pela
obediência ao Pai.
O apóstolo Paulo
entende o chamado de Jesus para tomar a cruz e segui-lo quando afirma: “Eu
estou crucificado para o mundo e o mundo está crucificado para mim”. O caminho
do mundo ensina: “Ame seus amigos e seja indiferente com os outros”. O caminho
de Jesus diz: “Ame os inimigos e ore por eles”. No caminho do mundo ser o maior
e o melhor é o mais importante. No caminho de Jesus o melhor é ser o menor e o
servo de todos.
Podemos achar que o
caminho de Cristo é muito difícil, que amar os inimigos, orar pelos
caluniadores, ser manso num mundo competitivo, humilde numa sociedade
ambiciosa, não é só difícil -- é impossível. Concordo, por isto o chamado é
para tomar a cruz. A cruz significa renúncia, sofrimento e morte.
As opções estão
diante de nós diariamente. Todos os dias somos levados ao monte da tentação.
Todos os dias o diabo nos oferece suas ofertas e seu caminho, e Deus, pela sua
palavra, nos revela seu caminho. Todos os dias temos de fazer nossas escolhas.
Tomar nossa cruz é aceitar o caminho de Cristo, e neste caminho experimentamos
uma espiritualidade verdadeira.
*Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja presbiteriana do Planalto e
coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de “Janelas para
a Vida” e “O Caminho do Coração”.
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